William Baum fala sobre seus trabalhos recentes em evolução cultural e suas contribuições para a Análise do Comportamento

O professor Dr. William M. Baum dispensa apresentações, afinal, é autor de um livro amplamente adotado em disciplinas de Análise do Comportamento nos cursos de graduação em Psicologia do Brasil. Baum estará em breve no Brasil para o V Congresso de Psicologia e Análise do Comportamento e a VI Jornada de Análise do Comportamento, em Londrina – PR, que ocorrerá de 07 a 09 de Junho. Nesta entrevista ele fala sobre como se tornou um analista do comportamento (antes mesmo de esse termo existir) e seus trabalhos interdisciplinares mais recentes sobre evolução cultural.
Para realizar esta entrevista convidamos o Dr. André Saconatto. André é mestre e doutor em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-SP e fez um período sanduíche na University of California, Davis, mesma instituição onde o Prof. Baum trabalha.
Como você se tornou um analista do comportamento?
Quando entrei em Harvard, eu estava interessado em comportamento e escolhi me concentrar em biologia. Na primavera do meu primeiro ano, eu estava olhando o catálogo de cursos e notei uma disciplina sobre comportamento chamado “Ciências Naturais 114”, que pretendia cumprir um requisito de educação geral. Fui ao primeiro encontro, me pareceu ser interessante, então eu me matriculei na disciplina. Era lecionado por um professor do departamento de psicologia, B. F. Skinner e o livro didático era o Ciência e Comportamento Humano. No semestre seguinte, me matriculei em uma disciplina chamada “Psicologia da Aprendizagem lecionada por R. J. Heirrnstein. Heirrnstein sugeriu que eu fizesse psicologia já que biologia tinha mais disciplinas. Fui convencido uma vez que eu poderia fazer uma variedade maior de disciplinas. Na época, não existia o termo analista do comportamento, mas o JEAB (Journal of Experimental Analysis of Behavior) tinha acabado de começar a ser publicado e, em pouco tempo, o termo entrou em uso. Acho que comecei a me chamar de analista do comportamento em algum momento dos anos 1970.
Atualmente você participa de um grupo de trabalho sobre evolução cultural na Universidade da Califórnia em Davis que envolve biólogos, antropólogos, economistas entre outros profissionais de outras áreas da ciência. Poderia nos contar um pouco sobre esse trabalho? Na sua opinião qual a contribuição da Análise do Comportamento para o campo da evolução cultural?
Esse trabalho em evolução cultural tem se mostrado interessante para mim. Como um analista do comportamento, eu vejo a cultura tanto como um processo de grupo que evolui quanto um ambiente no qual comportamento humano individual evolui. Acho que a Análise do Comportamento contribui fornecendo mecanismos plausíveis para evolução cultural e enfatizando comportamento concreto ao invés de conceitos vagos e especulativos tais como memes e módulos cognitivos.
Dada a sua experiência em trabalhar com pessoas de outras disciplinas científicas, o que na sua opinião, os analistas do comportamento deveriam fazer para ter diálogos bem-sucedidos com outras áreas da ciência, integrando assim a Análise do Comportamento na comunidade científica mais ampla?
Ao meu ver, integrar a Análise do Comportamento com a biologia evolutiva é essencial para a área crescer e ser levada a sério. A teoria da evolução é o paradigma global atual nas ciências biológicas e os analistas do comportamento ignorando isso correm um risco. Também deveríamos nos distinguir da psicologia, já que nenhum outro cientista tem muito respeito pela psicologia.
Poderia nos contar como o conceito de lei da igualação surgiu?
Quando eu era aluno de graduação e depois quando eu era aluno de pós-graduação, aprendi sobre a lei da potência psicofísica. Logo após eu retornar a Harvard como um aluno de pós-doutorado em 1966, eu me dei conta de que a escolha em esquemas concorrentes poderia ser caracterizada como uma lei de potência. Eu a apliquei ao dado de um experimento que eu e o Rachlin estávamos fazendo que finalmente foi publicado em 1969.
Seu livro “Para Compreender o Behaviorismo” é amplamente utilizado nos cursos de psicologia no Brasil, você pensou que teria tal impacto?
Devo admitir que fiquei surpreso. Eu não sabia muito sobre o tempo que Fred Keller esteve no Brasil, mas mesmo sabendo disso, eu não teria adivinhado que meu livro seria aceito. A abordagem do livro que é baseada em evolução e a abordagem filosófica que utilizei no livro se diferenciam das abordagens feitas por Keller e Skinner.
Na sua opinião, qual sua maior contribuição para o campo da Análise do Comportamento? Porque?
Gostaria de pensar que, junto com alguns outros, como Rachlin e Hineline, eu tenha ajudado a mover a Análise do Comportamento para uma abordagem mais viável, longe da análise molecular do comportamento baseada em respostas discretas, reforçadores contíguos, e constructos hipotéticos como força da resposta e estímulos privados. Essa nova abordagem conceitual concebe o comportamento como sendo composto de atividades estendidas no tempo que competem por um tempo disponível limitado e oferece a possibilidade de ter uma ciência do comportamento verdadeira natural, embasada em conceitos evolutivos.
Poderia dividir alguns dos seus pensamentos sobre o futuro da Análise do Comportamento e algum conselho para a geração mais nova de analistas do comportamento?
O futuro da Análise do Comportamento me parece pouco claro. De um lado, a análise aplicada do comportamento se tornou popular, e tal popularidade poderia levar a Análise do Comportamento a ser reconhecida como uma disciplina. De outro lado, a economia comportamental e a ecologia comportamental emergiram como disciplinas que competem com a Análise do Comportamento e podem em última instância absorver ou até mesmo substituir a Análise do Comportamento. Estes competidores que surgiram fora da psicologia são filosoficamente pouco sofisticados e podem ser mais populares porque falham em levantar problemas contra-culturais sobre agência e livre-arbítrio.
[Notícia extraída do seguinte endereço: https://boletimcontexto.wordpress.com/2018/06/01/entrevista-william-baum/]

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